quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Chata, Eu?!!!

Uma das facetas da minha personalidade é o horror generalizado por tudo o que envolva hospitais, seringas, agulhas e qualquer outro objecto de carácter corto perfurante!

Até à data (e já lá vão 36 primaveras – embora haja quem diga que não se nota…), fui agraciada com o desconhecimento total de tais realidades, sendo que só fui hospitalizada uma única vez, por conta da minha primeira gravidez (sim, que essas cenas naturistas de ter os meninos em casa, dentro de água e afins, não é para a minha pessoa, pelo menos, voluntariamente!).

Embora toda a gente diga que o parto natural é que é, que a recuperação é incomparavelmente mais rápida e menos dolorosa, até hoje pergunto-me se, de facto, assim é. Pergunto-me tantas e tantas vezes se uma cesariana não me teria poupado às tantas dores que se seguiram ao efeito da (santa) epidural. Se a imensidão de pontos que levei até à inconsciência não teria sido substancialmente reduzida, se em vez de me fazerem espernear até à exaustão me tivessem feito um cortezinho fino e indolor na linha do biquíni…

Às 25 semanas de gestação, todas estas dúvidas voltam a assolar-me, sendo que o estado de colossal emotividade em que me encontro, própria desta minha circunstância, faz renascer em mim o medo mais profundo da condição humana, numa dimensão nova, naquela de quem já tem um Filho que desesperadamente quer acompanhar e ver crescer (e uma personalidade melodramática bastante apurada, vá).

Tudo isto, aliado ao facto de circularem rumores de grandes dificuldades sentidas nos serviços da maternidade do HBA, criam em mim a necessidade, quase obsessiva, de que me passem a “mão pelo pêlo”.

Resolvi que estas minhas inquietudes haviam de ser amenizadas por um profissional, alguém que sabe do assunto e que, com toda a certeza, me dirá o que tão desesperadamente preciso de ouvir.

Assim, na consulta do obstetra, não perdi tempo:

- Ai Dr., estou tão nervosa, estou cheia de medo!!!
- Hum, Hum… (entusiasmo zero, desinteresse absoluto).
-  Ai Dr. mas o hospital está tão mal, será que a maternidade se aguenta?
- Não sei, vamos ver!

Na falta de desenvolvimento, voltei à carga:

- Oh Dr. mas pelo menos continuam a ministrar epidural, não continuam? É que eu não faço dilatação sem epidural! Olhe que da outra vez foram 13 horas e mais meia hora depois da epidural!
- O 2.º parto é sempre mais fácil.
- Pois Dr. mas é que agora já tenho um filho pequenino cá fora… os receios são muito maiores!
- Sim, sim…

Digamos que aquilo não foi exactamente o alento que eu procurava, o afago de alma que se impunha…

Entristecida, procuro aconchego nas palavras (desejavelmente) complacentes do marido:
- Não gostei nada da consulta de hoje, o Dr. parecia estar à pressa!
- Não achei, mas ainda lá tinha tanta gente…
- Fogo, não me ligou nenhuma, eu cheia de medo, a partilhar as minhas angústias, com receio que me deixem morrer, e ele nada, já viste?!!
- Sim… mas tu hoje estás um bocadinho chata!


Terapia de choque deve ser isto!

4 comentários:

  1. Não és nada chata. Essas dúvidas assaltam-nos. Eu própria, sem nunca ter passado por uma parto vaginal, soube ainda antes de estar grávida que "a coisa", a dar-se, seria por cesariana. Sou uma medricas de primeira, só de pensar no parto "normal", com ou sem epidural, fico sem pinga de sangue.
    A Mironinho e a natureza fizeram-me a vontade. A miúda esteve o tempo todo sentada e o GO, que sempre que eu lhe dizia que queria uma cesariana se ria e dizia que logo se via, que o parto não é nenhum bicho de sete cabeças, só me disse "Isto realmente, todos os malucos têm sorte! Marque lá dia 22 na sua agenda". Que fim de gravidez santo Pitanga! Continuei a ir às aulas de preparação para o parto, que se revelaram úteis noutras situações, mas a tranquilidade de sabermos que vai tudo acontecer de acordo com uma "agenda" previamente definida foi inestimável. Na véspera fui ao cabeleireiro, depois do almoço dei entrada no internamento, acordei - na verdade pouco dormi com a excitação - tomei um banho descansado, maquilhei-me e perfumei-me e à hora marcada levaram-me para o bloco, sem precalços, sem imprevistos. Queria receber a minha filha tranquila e bem arranjada (se o faço para trabalhar e para os eventos importantes, porque não o haveria de fazer no evento mais importante da minha vida?).
    Levei epidural, estive à conversa com os médicos o tempo todo e, sinceramente, aqueles agrafos na linha do biquini não doeram assim tanto... Durante os 5 dias que durou o internamento maquilhei-me sempre e pedi à cabeleireira do hospital para me ir lavar a cabeça. As outras mães olhavam-me de lado, "olhamseta" estupidona que só quer saber da vaidade em vez da bebé.
    A miúda chorava dia e noite com fome (não tinha leite mas as engfermeiras não estavam com grande vontade de lhe dar suplemento) e eu estava exausta, ms pelo menos não parecia um trapo, que, parecendo que não, ajudou a manter a moral.

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    1. Porra, se eu me senti um papel de embrulho usado, daqueles que se amachuca e se deita a um canto depois de abrir o presente, com este teu relato fiquei muito pior!!!
      Eu não tive nada disso! Tive 10 dias de pós parto absolutamente pavoroso, com dores de não me conseguir mexer e ao ponto de pedir à enfermeira que mudasse a primeira fralda do meu Filho porque as dores e a fraqueza eram tantas que eu receei deixá-lo cair...
      Cabeleireiro e maquilhagem eram realidades que, naquele momento, me pareciam de outra dimensão, sendo certo que por aqui não há cesarianas por opção, pelo menos para mim que considero que o recurso ao serviço particular não oferece qualquer confiança... Enfim, as maravilhas de se viver na província!
      Mas fico feliz por ti!

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    2. Mas eu tb vivo na província... tive sorte que a natureza fez-me a vontade e tive uma cesariana electiva (num hospital público) que correu para lá de bem.

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    3. Pois, nesse caso foste uma sortuda!
      Os meus putos dão a volta cedo! Este já deu!

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