quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O Sr. Simões e o Povo!



Quando li a notícia que o Sr. Simões ia doar todo o espólio de uma vida, fiquei intrigada. 

Percebi depois que os mais de 600 mil livros há muito haviam sido perdidos a favor do dono do imóvel de onde o velho alfarrabista tinha sido despejado e cujas rendas deixou de pagar.

Ainda assim, tive pena. Os nossos livros são coisas importantes, são verdadeiro património, fazem parte da nossa personalidade e, de alguma forma, definem quem e o que somos.

O que também nos define são as posturas que tomamos em situações que controlamos em absoluto, em que agir num ou noutro sentido depende apenas e só da nossa vontade, do nosso bom senso e sobretudo, do nosso sentido de justiça.

Segundo foi sendo noticiado, em cerca de duas horas, os milhares de livros colocados à disposição, de forma absolutamente gratuita, foram varridos das prateleiras onde, durante anos, acumularam pó, na expectativa que alguém os comprasse! Haja disposição.

Segundo também li, alguém, uma única pessoa, fez chegar à actual loja do Sr. Simões, a meia dúzia de ruas da antiga, um envelope fechado, com € 15,00 e uma nota de agradecimento pela iniciativa! Dos restantes, daqueles que se vêem nas imagens, em fila, a contornar o quarteirão, que vieram de todos os cantos do país, nem um cêntimo, nem uma palavra, nem um livro comprado na pequena loja que o pobre alfarrabista ainda consegue manter aberta…

Estariam obrigados ao que quer que fosse?!! Legalmente, não! Moralmente, não tenho dúvidas!

Como eu, muitos se indignaram com o aproveitamento descarado do povinho, e disseram-no sem medo, em aberta crítica. Dos comentários que li, lembro-me de uma resposta recorrente de uma senhora que, certamente na tentativa de legitimar o puro parasitismo, repetia a cada comentário de reprovação : ”Qual é o mal? A cultura também pode ser grátis!!!”

Pois pode, mas ter as mãos abertas para a receber e o cérebro trancado a sete chaves, valerá de muito pouco!

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