terça-feira, 10 de setembro de 2013

Dia de Turno

À porta da sala de audiências, encontro-me com o cliente para a prosa do costume. Inteiro-me dos acontecimentos e faço o prognóstico.

Uma condução com álcool… até aqui nada de novo.

O cheiro a vinho que o homem exala faz-me levantar a questão dos antecedentes.

- Ah, sim, já cá estive outras vezes…. Mas olhe, veja lá, tem que me defender em condições que eu tenho que ficar bem na fotografia…

Venho a descobrir que o curriculum é extenso, de fazer inveja a qualquer lista telefónica.

Perante isto, preparo o homem para o pior. Ele ameaça-me dizendo que sabe onde é o meu escritório.

Do alto do meu metro e meio faço-o perceber que entre os muitos predicados de um advogado não está o de fazer milagres. Fazemos as pazes.

Agora que já somo amigos, pede-me boleia para regressar… minto descaradamente dizendo que ainda vou ficar pelo tribunal….

Como se aquilo estivesse a correr bem diz-me:

- Ah, é verdade, tenho aqui o papel que me pediu - acto continuo, levanta a camisola e saca o documento de dentro das calças (não do bolso), enquanto o estende na minha direcção acompanhado de um sorriso.

- Deixe estar, logo me dá isso depois…. (enquanto tento desesperadamente não tocar no papel ao mesmo tempo que reprimo o vómito e o choro).

O homem insiste: - Não, veja lá se é isso! Novamente aquele sorriso.


Devia ter-lhe dado boleia!  

1 comentário: